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Comunicação Não Violenta, Transformando Relações na Gestão Escolar


Por Xavana Celesnah

Gestão Escolar - CNV - Leão

Comunicação não Violenta no Apoio a Gestão de Cursos, Escolas e Faculdades

A Comunicação Não-Violenta é uma maneira de se comunicar pacificamente, sem acusações e agressões, com o objetivo de criar conexões verdadeiras entre as pessoas, inclusive em situações conflituosas. O conceito surgiu na década de 1960 nos EUA e foi elaborado pelo Dr. em Psicologia Marshall Rosenberg, autor do livro “Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”. Ele sofreu bullying na infância pelo fato de ser judeu, chegando inclusive a ser agredido fisicamente por colegas de classe na época do colégio, em 1943.

A partir daí, buscou compreender as causas de certos tipos de violência psicológica, acreditando que todo ser humano é capaz de compaixão, mas que através do convívio social e da forma como foram educados, acabam reproduzindo diálogos violentos sem nem perceber. Desde o espancamento que sofreu, Rosenberg ficou se perguntando “o que nos permite permanecer sintonizados com nossa natureza compassiva mesmo nas piores circunstâncias?” E foi a partir da reflexão sobre essa questão que chegou, na vida adulta, ao conceito de Comunicação Não-Violenta (CNV).

De acordo com o próprio Rosenberg, o termo “não-violência” foi usado por ele na mesma acepção atribuída por Gandhi: “referindo-se a nosso estado compassivo natural quando a violência houver se afastado do coração”. A violência se manifesta de várias formas, não apenas na esfera física. Comportamentos e posturas deste tipo estão presentes nas escolas, nas relações familiares, nos escritórios, nas relações de amizade e também nos relacionamentos amorosos. A comunicação verbal violenta acontece através de ordens, repressões, gritos, xingamentos, maneira autoritária de falar.

A comunicação não Violenta da Natureza

Nas escolas, alguns professores ainda se comportam com autoritarismo diante de seus alunos, piorando a relação em sala de aula. É importante que a gestão escolar reconheça a necessidade de se trabalhar a questão do diálogo compassivo em suas instituições de ensino, pois muitas vezes um ambiente desrespeitoso ao professor acontece devido à problemas de comunicação, como a falta da escuta compreensiva, por exemplo.

Para evitar a perpetuação de comportamentos prejudiciais e inconscientes, a Comunicação Não-Violenta propõe a prática da escuta e do esclarecimento sobre as necessidades dos envolvidos em determinada situação. A autorresponsabilidade é um dos pilares da Comunicação Não-Violenta, pois a partir do momento que se deixa de culpar o outro pelos próprios sentimentos, a pessoa passa a compreender que aquela sua emoção na verdade existe porque há, ali, uma necessidade não suprida. Segundo Rosenberg, “A CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros. Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando."

Comunicação não Violenta no Mundo Marinho - Jubartes

Gestão Escolar - Comunicação não Violenta Tigres Bengala

Por exemplo: um gestor escolar pode ficar desapontado com a desorganização de sua equipe em uma reunião e, ao invés de soltar uma frase do tipo “você é extremamente desorganizado”, embasado nos conceitos da CNV, ele poderia dizer simplesmente: “sinto necessidade de uma maior organização durante as reuniões, é importante para mim que os papéis estejam em ordem e que a apresentação no powerpoint seja feita de acordo com o roteiro da fala. O que você acha disso?” Agindo desse modo, ele está tomando consciência de expressar a sua própria necessidade, que no caso era a de ter uma equipe mais estruturada.

Ao modificar o pensamento de “alguém é culpado” para “qual foi minha necessidade que não foi satisfeita naquela situação e o que eu posso fazer para ser compreendido”, as pessoas começam a dialogar no intuito de gerenciar seus conflitos objetivando relacionamentos harmônicos. A prática deste tipo de diálogo restaurativo, seja nas instituições de ensino, nas empresas ou mesmo na vida privada, modifica completamente a conexão entre as pessoas porque cria união e empatia ao invés de discórdia, desenvolvendo a inteligência emocional dos envolvidos. “À medida em que a CNV substitui nossos velhos padrões de defesa, recuo ou ataque diante de julgamentos e críticas, vamos percebendo a nós e aos outros, assim como nossas intenções e relacionamentos, por um enfoque novo. A resistência, a postura defensiva e as reações violentas são minimizadas”, afirma Rosenberg.

Mas, para que a Comunicação Não-Violenta possa ser praticada, é preciso que seja conhecida. Daí, a necessidade de escolas, faculdades cursos e empresas buscarem um maior engajamento nesse sentido, tendo consciência de que grande parte das ações comunicativas violentas como o bullying e o assédio moral acontecem nesses ambientes, adoecendo tanto os estudantes quanto os funcionários, que, muitas vezes ficam retraídos e até mesmo deprimidos, por não saber lidar com as agressões psicológicas.

De acordo com Marshall Rosenberg, desde cedo aprendemos a nos comunicar de forma alienante, nos levando a falas e comportamentos capazes de ferir aos outros e a nós mesmos. Uma das formas de “comunicação alienante” seria a mania de fazermos julgamentos moralizantes, condenando como errados ou maus aqueles que agem em dissonância com nossas expectativas. Viver fazendo comparações com outras pessoas também é considerada uma forma de comunicação alienante para o pesquisador, que induz à autodepreciação e minimiza a compaixão pelos outros.

O autor lista quatro passos para a prática da Comunicação Não-Violenta. São eles:

1-Observar sem julgar: não colocar juízo de valor sobre determinada atitude ou acontecimento. Observá-lo de forma neutra. Pois 90% do nosso sofrimento resulta de nossas interpretações a respeito do comportamento do outro.

2-Identificar Sentimentos: essa é uma prática de auto-observação. Ao constatar qual sentimento foi gerado a partir de uma situação específica, é possível saber expressar ao outro qual necessidade sua não foi satisfeita e criar um diálogo capaz de fazer o outro compreender as suas necessidades. Como nos sentimos ao observar aquela ação: frustrados, magoados, alegres, irritados, amedrontados, entusiasmados, etc.

3-Assumir Responsabilidades: esse passo relaciona-se com o anterior, uma vez que ao identificar seus próprios sentimentos, a pessoa evita culpar o outro por seu desapontamento. Além disso, assumir responsabilidades também significa admitir erros e acertos. Os erros são sempre mais difíceis de ser assumidos porque todos temem retaliações e críticas, mas a Comunicação Não-Violenta também considera importante a capacidade de se mostrar vulnerável. De acordo com a pesquisadora e escritora Brené Brown, autora do livro “A Coragem de Ser Imperfeito”, quando expomos nossas dificuldades conseguimos nos conectar com o outro de uma maneira mais humana, pois compartilhamos uma experiência com que muitos podem se identificar.

4-Fazer Pedidos: a postura de quem faz pedidos é bem diferente daquela de quem ordena e culpa. Numa sala de aula, por exemplo, um professor pode ouvir as necessidades dos alunos e depois expor as suas. Um diálogo deste tipo faz com que os estudantes possam compreender melhor os motivos do professor em momentos específicos.

Gestão Escolar - Comunicação não Violenta Entre Papagaios

Gestão Escolar - Comunicação não Violenta na Galáxia

Gestão Escolar - Comunicação não Violenta no Processo de Estudo

Para Rosemberg, é importante que nos concentremos nessas quatro áreas para que o fluxo da comunicação ocorra com compaixão. Quais são as ações concretas que estou observando e que afetam o meu bem-estar? como estou me sentindo em relação ao que observo? quais são minhas necessidades? quais são as observações e necessidades do outro? que pedido construtivo posso fazer ao outro sem agredi-lo para que ele me compreenda? O que o outro está me pedindo? A partir dessas perguntas, é possível nos expressar construindo empatia. Para que o fluxo da CNV aconteça naturalmente, é preciso que haja duas vias de comunicação: tanto a capacidade de se expressar honestamente a partir das quatro áreas citadas acima quanto a capacidade de ouvir e receber com entendimento a fala do outro.

No mundo corporativo, de acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup em mais de 160 países, a falta de conexão e comunicação entre as pessoas é o principal fator do desengajamento profissional. Entre os motivos listados na pesquisa, basicamente todos estavam de algum modo relacionados com a comunicação interpessoal: falta de reconhecimento e necessidade de ser ouvidos; falta de comunicação aberta e franca, de um interesse sincero pelos seus problemas; pouco diálogo, tanto com os colegas quanto com os líderes; necessidades ignoradas pelos superiores.

Daí a importância da CNV para nos ajudar a reformular o modo pelo qual falamos e ouvimos os outros, possibilitando um vínculo real entre as pessoas e gerando também a autocompaixão, que é a capacidade de auto-acolhimento e auto-compreensão diante de situações adversas. Esse processo comunicativo promove uma maior interação, ao dar atenção à escuta empática, estabelecendo genuína profundidade nas relações e gerando convívios mais eficazes no trabalho.